Desde a mais tenra idade sou fascinado pelo sentido da vida. Sempre procurei a vida que vale a pena. E sempre disse também que um momento pode fazer toda a sua existência valer algo diante da morte.
Eu sei. Soa romântico, talvez até um pouco ingênuo. Mas o que seríamos sem um olhar poético para a realidade? Cachorros? O dia em que pararmos de estarrecer diante do milagre do pão, diante do milagre da realidade, passaremos a andar de quatro.
A humanidade sempre fora carregada de paixão e poesia. Em nosso tempo, materialista, a poesia foi-se para as cucuias e nos restou virarmos máquinas de resolver problemas, ganhar dinheiro e fingir sermos boas pessoas.
Tudo isso é vazio diante da morte.
Todos dizem: a única certeza, na vida, é que iremos morrer. A outra é: para tudo se dá um jeito, menos para a morte.
Eis o desespero do mundo: dos pobres, dos ricos, dos feios, dos belos, dos miseráveis, dos reis, dos servos… a morte! Ela alcançará a todos numa corrida cujo esforço o levará para o mesmo lugar que o resto da humanidade: a cova e os vermes.
No desespero, passamos a tentar preencher o vazio que a angústia nos causa com coisas materiais. Ora, é mais fácil. Se estou em estado de tensão, me masturbo, faço compras, faço sexo, invisto meu dinheiro, uso umas drogas, viajo para fora do país, posto fotos com filtro, faço pose de bem resolvido.
Mas de que vale tudo isso diante da morte?
Diante da morte, o que vale é a ideia dos náufragos, ou seja, imagine que você está prestes a morrer no meio de um oceano infinito. Nesse momento, a única coisa que aparecerá na sua consciência são as coisas que realmente importam.
O beijo na sua amada; o abraço no seu pai; o sorriso ingênuo do seu filho; o perdão que faltou; o amor que não foi dito; uma oração à Nossa Senhora; um desejo de ser em Cristo; uma esperança do paraíso.
Serei sincero: para mim, viver é aprender a morrer. Por isso, meus caros, estou aqui, dia após dia, mostrando-lhes a vida que vale a pena. E uma vida só valerá a pena quando eu a coloco diante da morte, pois é só diante da morte que eu consigo ver o que realmente importa.
E, antes que eu me esqueça: já demos um jeito na morte! Jesus ressuscitou, venceu a morte!
Guilherme Angra 
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