Estes dias pensava sobre o adultério. Ora, qualquer um que passe por esta existência fugaz, recebe algumas certezas de Deus, cujas marcas ficam cravadas na alma logo após o nascimento. A morte é uma delas. A outra é o chifre. Talvez você esteja pensando: “Se eu tomei, não fiquei sabendo.” Então, provavelmente, você tomou. E tá tudo bem. É como eu disse, ser traído é uma certeza. Diga-me, leitor, se não é um alívio saber que você não é o único a ser traído neste mundo?
Não há como falar de traição sem trazer um dos personagens mais canalhas das minhas crônicas: Naldo, o canalha honesto. “Se é honesto, não é canalha, se é canalha não é honesto” talvez você pense. Engano seu, leitor, engano seu. Naldo é o canalha honesto pelo simples fato de dizer às moças, suas verdadeiras intenções antes do prazer. Ele possui a capacidade de chegar em uma boa samaritana, encarar-lhe no fundo dos olhos e proferir: “A gente vai dançar. Eu vou te tratar bem. Vou te tratar com carinho, mas é só por hoje. Amanhã eu vou embora sem compromisso algum. Ok?” Diferente dos canalhas que prometem mundos e fundos para moças ingênuas, apenas para descarregarem suas tensões sexuais e então nunca mais aparecerem. E ainda saem contando vantagem para todos os amigos. Ah, mais uma qualidade do canalha honesto: come quieto. E, como ele sempre me fala: “Quem come quieto come duas vezes.”
Eis o que eu queria dizer. Naldo e eu estávamos a conversar sobre traição. Antes de chegarmos neste assunto, o canalha me contou uma história de seu paroxismo na canalhice. Lá nos idos de sua solteirice, o sujeito me alugou uma quitinete do lado de um dos salões de festas mais badalado da cidade. Se você tem um pingo de canalhice nas entranhas, já se atentou no que estou prestes a contar. Nesta época, os quatro dias de carnaval, foram feitos neste salão. O canalha honesto fora nos quatro. Mas ele não era bobo. Adentrava na festa, bebia pouco e ficava de olho no banheiro feminino. Quando a fila estava enorme, o bendito chegava na última da fileira e lhe fazia uma proposta irrecusável: “Eu moro aqui do lado. Se quiser, pode usar o meu banheiro.” É ou não é um canalha? Disse que nunca pegou tanta mulher como neste carnaval. Elas iam até sua quitinete, usavam seu banheiro, se apiedavam com a sua boa vontade e lhe retribuíam com favores sexuais. Logo depois, mais leve, ele estava de volta na festa a encarar a fila do banheiro feminino.
Ainda não era isso o que eu queria dizer. Ah, sim, lembrei. Sobre o adultério. Naldo me chegou com a máxima: “Há um perfil do corno! Eu conheço um cara e, após cinco minutos de conversa, já consigo saber: perfil de corno.” Não quis que o Naldo me analisasse — vai que eu tenha o tal perfil —, mas o instiguei a falar mais sobre o tal perfil do corno. E lembre-se, leitor, corno todo mundo já foi, ou, se não foi, será. O problema do homem com o perfil do corno, é o seu destino: será chifrado por todas. Nem uma, nem duas vezes, mas qualquer relacionamento que este miserável entrar, corno ele será. Até rimou.
O primeiro item do perfil do corno, trata-se do homem demasiadamente bonzinho. Sim! O faz-tudo pela mulher. O homem que é mandando, pisoteado e humilhado dentro de casa, e não é capaz de levantar sequer a voz, mas pelo contrário, abaixa a cabeça e continua a obedecer, como um cachorrinho de madame cuja coleira tem até nome. Um homem que não é capaz de levantar a voz com sua mulher quando é preciso, pode agora mesmo começar a andar de quatro. A coisa fica ainda mais grave quando a mulher o humilha na frente dos outros. Normalmente, quando se chegou nesta situação deprimente, o homem já está sendo traído. A mulher o olha com ódio e desprezo. Talvez tenham filhos e ela pense nas crianças; talvez há muitas coisas em jogo, o que dificulta o término. Então, o que sobra para esta esposa adúltera é ódio, ressentimento e degradar o marido para o amante.
O segundo item do perfil, é o que não faz nada pela mulher. Não compra um presente, não dá um carinho, não levanta nem do sofá para ajudá-la a pegar as compras do mercado, mas pelo contrário, o futuro corno fica deitado jogando videogame ou assistindo ao seriado Friends. Além disso é um reclamão que não resolve problemas, foge de suas responsabilidades e transa mais com sua mão do que com sua esposa. Não há possibilidades deste miserável não se tornar um corno de primeira categoria, daqueles que, no seu velório, hão de dizer: “Será que existe um paraíso para os bois?”
E há, ainda, segundo o nosso canalha honesto, um terceiro item para completar o perfil do corno: aquele que casa com a mulher mais desejada da cidade. Estamos falando aqui de uma mulher à la Monica Bellucci, ou seja, aquela que passa e os homens simplesmente pensam: “O que eu preciso fazer para ter essa mulher?” Há alguns que sequer seguram este desejo no pensamento. Seus Superegos vão para o escambau! O que sobra é instinto e, sem pensar bulhufas, fazem a proposta indecente para a dama: “O que eu preciso fazer para te ter?” Uma mulher dessas não consegue levar o lixo na calçada sem que receba uma cantada. Eis o que o canalha honesto me diz: “Uma mulher deste calibre ninguém come sozinho! Ela é desejada por todos os homens que a conheceram, que a conhecem e os que ainda hão de conhecê-la!” E eu retruco: “Mas e se ela tiver bons valores e princípios?” Ao que ele responde: “Cara, você é inocente, né? Imagina receber todos os olhares te desejando… por mais valores e princípios que você possa ter, uma hora você cede.”
Eu e o canalha honesto estamos pensando em escrever um livro sobre a personalidade do homem corno. Exatamente como Sigmund Freud fez com Josef Breuer, ao escreverem sobre histeria. Já pensou eu e o canalha honesto nos tornarmos referências nas maiores faculdades de psicologia do país, com a nossa teoria sobre a personalidade do homem corno? Não é de se duvidar, já que o curso de psicologia anda ensinando tantas bobagens para os alunos.
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