PENSAR, ESCREVER E FALAR: A IMPORTÂNCIA DE SER ALGUÉM ARTICULADO

Uma das coisas mais fundamentais que ninguém nos ensina, nem na infância, nem na escola e, nem mesmo, na faculdade, é a preciosidade que há no ato de pensar, escrever e falar. E nós somos isso, aliás, o que seria do homo sapiens sem estas habilidades divinas? Ora, seríamos como qualquer outro animal que segue sua própria natureza impensadamente. Agiríamos por puro instinto. Alguém que domine estas três expressões humanas (pensar, escrever e falar), torna-se imbatível, pois as usamos, praticamente, em todas as nuances de nossas vidas. Isto nos torna articulados e, uma pessoa articulada, está mais preparada para encarar o sofrimento da vida e a malevolência do mundo.

Já disse, muitas vezes, que a escrita me poupou algumas sessões com psicólogos. E por quê? Quando me coloco a escrever, naturalmente faço a minha mente pensar e, quando penso, estou organizando o meu caos. Assim que organizo este caos, o exponho ao mundo de forma ordenada por meio da linguagem. E isso é maravilhoso. É uma cura pela escrita. Compare a sua mente com um quarto completamente desorganizado e sujo. Sempre que adentramos em um quarto como este, sentimo-nos perdidos, não conseguimos nos achar, ficamos inseguros — e toda insegurança carrega o medo —, pois tudo está fora de ordem e de lugar. A angústia e a ansiedade nos acometem com maior facilidade dentro do caos. Eis que você toma coragem e resolve limpá-lo e organizá-lo. Só pelo ato de tentar colocar ordem no caos, você se sentirá melhor, pois estará ocupando a sua cabeça com algo valoroso para o seu ser.

À medida que o quarto fica mais organizado e limpo, você se sente melhor naquele ambiente. Já não é tão ruim estar ali. E isto é óbvio: você já não está tão perdido como antes, agora as coisas estão mais ordenadas e você consegue achá-las com maior facilidade; isso lhe traz segurança, além, é claro, de lhe trazer um sentimento de paz de espírito, pois você está diante de um ambiente mais bonito e harmonioso. Isto faz maravilhas na vida de qualquer um, tanto arrumar o quarto, quanto arrumar a mente.

Mas a escrita, além de todas estas benesses, lhe deixa mais articulado. No momento em que escrevo, penso minuciosamente em cada palavra, nas construções das frases e dos parágrafos, e em como tudo isso irá soar aos ouvidos dos leitores. É como uma boa música: Os instrumentos precisam estar afinados no mesmo tom. Ao iniciar a canção, cada instrumento se encarrega de fazer a sua parte no seu devido tempo, e assim, esta canção tem grandes chances de soar bem aos nossos ouvidos.

Todas estas ações irão refletir diretamente na sua fala e no modo como você se expressa. Eu sou um bom exemplo disto. A escrita melhorou, consideravelmente, o meu vocabulário, logo, quando me expresso pela fala, possuo mais opções ao argumentar, consigo formular melhor as frases e meus argumentos, e isso é ótimo, pois entrego a mensagem para o meu receptor com uma maior eloquência e inteligibilidade. Isto facilita a sua vida, como a de quem convive contigo. A falta de uma comunicação clara e eficiente é um dos maiores problemas que ocorrem nas interações humanas, e isso não é brincadeira.

Claro que o “falar bem” não é apenas usar as melhores palavras em um dado contexto. Há muitas coisas a se fazer além disso: cadenciar o tom de voz, saber a hora de aumentar ou diminuir o volume, administrar o silêncio, corrigir a dicção, usar bem as mãos enquanto fala, sentir-se seguro diante do público e etc. Comunicar-se bem não é fácil! E justamente por isso, deveria ser uma das coisas mais fundamentais a ser ensinadas desde a tenra infância para todos nós. Em vez disso, as faculdades, por exemplo, se preocupam mais em ensinar ideologias inúteis para os alunos, do que torná-los articulados diante do mundo.

Por isso, é comum nos depararmos com jovens recém formados, que não sabem sequer formular um argumento próprio com início, meio e fim, nem por pensamentos, nem pela escrita e, muito menos, pela fala (eu fui este jovem). A única coisa que sabem fazer, é vociferar discursos ideológicos por aí, ou seja, eles não conseguem pensar por si mesmos, e uma pessoa que não pensa por si mesma, será escrava de alguém, ou melhor, de alguma ideologia política. Isto acontece, pois pensar é difícil. Tornar-se uma pessoa articulada é algo que demanda muito, mas muito esforço e responsabilidade pela própria vida. E, acima de tudo, coragem.

O problema aqui é: o mal, grande parte das vezes, é articuladíssimo. A história nos traz diversos exemplos: Hitler, Stalin, Getúlio Vargas. Estes homens pensavam como poucos, escreviam bem e falavam melhor ainda. Seus discursos eram precisos e memoráveis, mas eram malévolos e carregados de demagogia. A demagogia encanta grande parte das pessoas pouco articuladas, pessoas incapazes de pensarem por si só, pessoas incapazes de questionarem o que lhes é apresentado, logo, o que lhes resta é acreditarem em meias verdades (ideologias políticas, na maior parte das vezes), pois é fácil, o discurso vem pronto e preparado para seduzir-lhe, preparado para preencher o seu vazio.

Perceba, então, meu caro, o óbvio ululante: a vida de uma pessoa não articulada será muito pior, em todas as nuances: em relacionamentos amorosos, nas amizades, em debates, numa simples conversa, em reuniões empresariais, para conseguir empregos, para adquirir riqueza e etc. Eis a importância de se tornar alguém articulado, alguém que possa enfrentar as adversidades da existência de cabeça erguida e de olhos abertos, e assim, não se tornar um covarde em um quarto sujo e bagunçado, onde a única saída é o ressentimento pelos outros, pelo mundo e por Deus.

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  1. Danilo Vizibeli

    Amei o texto, menos a parte da ideologia, pois escrever também é um ato ideológicos. Somos sujeitos ideológicos por natureza. Está tomando discursividades vazias de significa por uma única posição (partidária). Tomar partido é fundamental na vida e não há leitura ou escrita neutra, portanto nem ensino.

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    1. Guilherme Angra

      Obrigado pelo comentário. A gente pode conversar mais sobre ideologias, mas o meu ponto principal aqui é: quando o indivíduo passa por cima de seus princípio e se vende para um coletivo ideológico. Abraço.

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      1. farlleyderze

        O que vejo como um problemão aqui (problemão no sentido acadêmico do termo “problema”, é qualquer pretensa “capacidade” de se conhecer “os princípios” de uma pessoa, sobretudo aquelas com as quais não convivemos para testar a distância entre o que diz e o que faz. Como identificar “os princípios” de um indivíduo para viabilizar a afirmação de que “ele passou por cima” de seus princípios? É uma dúvida que tenho. E aqui me dirijo ao Guilherme tendo em vista que teria reunido as condições necessárias para identificar “os princípios” de outra pessoa que não ele próprio.

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  2. farlleyderze

    Guilherme, boa noite. Gostei do seu texto pela valorização do pensamento, da fala e da escrita como ferramentas que devíamos dominar desde a fase escolar. Todavia, é um exagero comparar Getúlio Vargas a Hitler e Stalin. Você teria oportunidade de encontrar outro exemplo. Getúlio não cometeu assassinatos em larga escala contra o próprio povo ou outra população, como fizeram Hitler e Stalin. E esse meu argumento nem preciso defender. Basta observar a História. Ela diz por si só. Apesar de suas ideias não serem aceitas pela totalidade da população brasileira à época, Getúlio criou o Ministério da Educação e da Saúde, criou o salário mínimo e, enfatizo, não assassinou milhões de pessoas como fizeram Hitler e Stalin. A comparação é exagerada, desproporcional e enfraquece o trajeto da linha de argumento que adotou até estabelecer tal comparação. Entenda que não me dirijo a você, mas à sua argumentação. E se me permite: Getúlio não merece estar ladeado por dois déspotas e assassinos que o mundo inteiro não esquece.

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    1. Guilherme Angra

      Bom dia. Então, eu peguei um exemplo de um comunista, de um nazista e de um fascista. Eu entendo que Getúlio não fora tão facínora quanto os outros dois, mas não deixa de ser um déspota brasileiro. A gente pode conversar mais sobre isso. Obrigado pelo comentário. Abraço.

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      1. farlleyderze

        Se quiser conversar mais, fico à disposição, inclusive para conhecer o critério de análise que você adota para colocar lado a lado Getúlio, Hitler e Stalin. Abraço.

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  3. Carlos Mir

    Oi Guilherme, um ótimo texto, mas antes de mais nada gostaria de saber quem são as outras duas pessoas na imagem do começo, consegui reconhecer Jordan B. Peterson porém não os outros.
    Concordo com alguns pontos e discordo com outros nada além do natural, como muito bem posicionado durante o texto não da para negar a importância da articulação da linguagem, já que sem ela nos tornamos submissos dos pensamentos alheios impostos mediante o discurso.
    A exposição sobre as deficiências educacionais brasileiras é muito valida, mas talvez um pouco simplista, provavelmente pelo escopo do artigo. Gostaria de saber em maior extensão sua perspectiva sobre quais são os problemas que levam a essa deficiência.
    Finalmente o ponto sobre o mal ser articuladíssimo foi incrível, um trechos que sem duvidas merece menção.
    Obrigado pelo texto, abraços.

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    1. Guilherme Angra

      O primeiro é Nelson Rodrigues (um dos maiores cronistas brasileiros), o segundo é Stephen King. Ainda vou escrever um texto, expondo com mais profundidade sobre as deficiências educacionais e de como este modelo atual é improdutivo e ineficiente.
      Obrigado pelo comentário. Grande abraço.

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      1. Carlos Mir

        Estarei aguardando esse artigo para podermos debater o assunto em maior profundidade. Grandes abraços.

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  4. mariluz dos anjos

    Excelente texto: um tema fascinante, boas comparações e um otimismo acima de tudo. A escrita e tudo que a ela pertence me ajuda a viver. Obrigada por estar seguindo meu blog, e seguimos nesse barco. Um abraço da Mariluz.

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