NADA É TÃO VERDADEIRO QUANTO UMA CRIANÇA QUE ACREDITA EM COELHO DA PÁSCOA

Fui passar o final de semana de páscoa com meu irmão e minha cunhada. Eles têm uma filha de três anos, a Ana Laura. A Lala, como chamamos, produziu em mim um dos melhores sentimentos que já senti há muitos anos: a felicidade sincera de uma criança. Na noite do dia 31/03, minha cunhada estava fazendo pegadas de coelhos e escondendo chocolates por toda casa. Fiquei analisando aquilo e pensando como foi na minha época, como foi quando eu era uma criança inocente.

Acordei no outro dia, 01/04, com gritos e risadas de alegria plena da Lala. Como é bom ser criança; como é bom não termos consciência do que é a vida real; como é bom acreditar em Papai Noel e em Coelho da Páscoa; como é bom brincar e fantasiar histórias que acreditamos ser possível de acontecer; como é bom ver o mundo como um parque de diversões; como é bom ter pais que nos protegem de todo o mal.

Quando levantei, imediatamente, a Lala veio contar-me, com olhos rútilos, sobre a surpresa, sobre os ovos de páscoa, as pegadas do coelho, sobre o mundo que ela própria criara em sua cabeça. Foi satisfatório vê-la daquele jeito inocente de uma criança feliz. Por isso uma criança salva casamentos, faz uma mulher se tornar mais mulher, o homem se tornar mais homem. Vocês têm ideia do que é ser uma mãe ou um pai? Eu posso ter a ideia através de uma empatia, mas sentir verdadeiramente isso, ainda não. Só quem é pai e mãe é capaz deste sentimento. Não é à toa que a maior parte dos pais fazem de tudo por um filho, uma coisinha tão sensível, frágil, inocente. Como não amar com toda sua força aquele ser?

As pessoas normalmente falam que a melhor fase da vida é quando somos crianças. Realmente, é e ponto final. E isso acontece porque uma criança não tem consciência da vida. Ela apenas vive sem ter noção da capacidade que o mundo tem de nos entristecer. Claro que ela vai sentir-se triste algumas vezes, mas rapidamente ela cria algo no seu mundo singular e pronto, está tudo resolvido. Tanto é verdade que quando começamos a entender o mundo, perdemos horas de sono, quando entendemos que podemos morrer, que quem amamos pode morrer, que doenças podem nos acometer, que temos que nos submeter muitas vezes a empregos e a pessoas desprezíveis, não adianta criarmos um mundo singular, este mundo já existe e está rindo da sua cara. A única coisa que podemos fazer é aceitá-lo.

Sempre enfatizei que quando aceitei a crueldade da vida, ela ficou melhor; quando aceitei que não somos nada e que há uma probabilidade imensa de darmos errado, a vida pareceu valer a pena; quando deixei de buscar a felicidade a todo o custo, a encontrei mais vezes. O que acontece com muitos adultos é continuarem crianças, não amadurecem, não se aprofundam em nada, e acham que correr atrás da felicidade feito um coaching do mundo moderno é a chave para o sucesso. O único problema nesta questão é que crianças não têm opção. Elas são assim por uma razão estritamente biológica e natural, ou seja, elas são inocentes por natureza. Por isso é belo ver uma criança alegre pensando que um coelho realmente deixou um ovo de páscoa escondido em sua casa, mas é ridículo ver um adulto acreditar no mesmo.

Então temos dois extremos necessários na vida de qualquer alma humana: quando crianças, felicidade quase plena, mundos singulares, verdades absolutas, heróis invencíveis, vilões predestinados à morte, fantasias reais, felicidade de viver e inconsciência; quando adultos, contas para pagar, trabalho, imposto, mundo único, felicidade rara, tristeza a cada esquina, morte, doenças, consciência, amores impossíveis, satisfação plena inverossímil e crueldade da vida. Aceite.

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